Ventania
forte e fria a que soprava contra o rosto daqueles dois. Retornando para o
castelo, o rei Gabriel parece respirar aliviado, comentando a respeito dos
aventureiros que acabara de conhecer na taverna, aqueles que aceitaram o
desafio de acabar com Agnaron:
-Ufa!
Não demorou muito para aquele velho nos apresentar um grupo de aventureiros! Eu
não os encontraria, pois mal conheço meus próprios servos!
Sir.
Dewysom, experiente nômade que era, o alertava para os cuidados que deveriam
tomar naquele momento:
-Não
abaixe a guarda, majestade! Aqueles que contratamos são mercenários! Eles lutam
po dinheiro! Se eles vão honrar o compromisso ou não é algo que só saberemos
depois que eles partirem rumo ao confronto com o inimigo... isso “se” soubermos
do paradeiro deles! Não podemos nos dar o luxo de pensar que resolvemos o nosso
problema!
Uma
voz alta e grave vem dos céus: - Você tem toda razão, Sir. Dewysom! – era ele,
o monstro branco voador, que sobrevoava despretensiosamente as proximidades...
e para o azar deles: Agnaron! O único da espécie capaz de voar sob a nevasca
intensa.
- Não tenham medo. Eu não desperdiçaria meu
tempo com vocês dois... coitadinhos: perdidos na floresta!! Estou procurando
algo para matar a minha fome! (irônico) Aliás, não é todo dia que eu encontro
um membro da família real perambulando por aí...
Sir.
Dewyisom tomou a frente do jovem Gabriel e segurou firme a sua espada,
apontando-a contra o réptil gigante e em posição de combate. Agnaron não era
gigante, ágil e assustador! Entre suas garras afiadas ainda estavam o sangue da
sua última vítima: certamente um pobre animal que cruzara o seu caminho. Da sua
boca poderia sair um hálito tão frio que congelaria qualquer ser num raio de
dez a quinze metros... e esta era mais ou menos a distância entre ele e a dupla
de “azarados”. Não restou outra alternativa ao Sir. Dewysom, e ele foi direto
ao ponto:
-
Providenciaremos o seu ouro, Agnaron. Talvez demore um pouco, pois Aisengard
não esperava passar por uma situação como essa. A família real atravessa um
momento difícil...
-
Acha mesmo que eu vou lamentar a morte do rei? – interrompe o lagarto voador –
Eu poderia me aproveitar da situação e fazer
Aisengard sumir do mapa. Mas aí não teria graça! Me divirto vendo os
humanos se escondendo de mim ou armando emboscadas para me capturar. Ah! Ah!
Ah! Vou esperar um pouco mais, até que reúnam todo o ouro. Ou mandarei centenas de goblis e orcs invadirem suas terras. Todos eles sedentos por guerra
e destruição... e sob o meu poder! Ah!Ah!Ah! Ah!Ah!
A
cada passo que o dragão dava olhando por entre as árvores, procurando por uma
presa, Gabriel, amedrontado, escondia-se atrás de Sir. Dewysom, este empunhava
a sua espada com a firmeza de quem estava pronto pra ser atacado.
Eis
que Agnaron, num ataque surpresa, se apodera de um animal, uma vaca. Ela
passava por perto quando o lagarto cravou suas garras no animal, ao mesmo tempo
em que impulsiona para levantar vôo. Dizia em voz alta:
– Eu quero meu ouro! – ao mesmo tempo que o
animal mugia de dor em suas garras perfurantes! E sumia pelo céu.
Aliviados,
os dois escoram numa árvore e agradecem aos anjos, simplesmente por estarem
vivos após a surpreendente abordagem:
-
Majestade, o senhor está bem? – preocupa-se Sir. Dewyisom com o seu rei - Esta
criatura não é tão grande quanto ouvi falar. Com as asas abertas, ele parece
muito maior - Gabriel encontrava-se em completo estado de choque – Fique calmo,
senhor. Ele só queria se alimentar, coincidentemente passávamos próximo a uma
das fazendas do reino – tentou tranquilizá-lo , mas o pavor já havia tomado
conta do jovem.
-
Sei exatamente o que aconteceu, Sir. Dewysom: nós... quase... morremos!! Esta criatura é terrível... e vai acabar com
todos nós! – gritava Gabriel desesperadamente.
- Durante todo esse tempo em que negociávamos
com os mercenários, muitas coisa passou pela minha cabeça – afirmara o rei –
Agora então, diante do próprio Agnaron... eu estou com medo! Veja como tremem
minhas mãos.
-
Coragem, majestade! Estamos vivos, isso é o que importa! Devemos continuar a
nossa caminhada rumo ao castelo ou morreremos aqui congelados... a nevasca está
piorando! – gritava também o bravo nômade com o seu rei, na expectativa de que
ele despertasse do trauma. Porém, transtornado, o jovem continuava a lamentar a
sua falta de experiência e a necessidade de ter que tomar decisões importantes:
-
Meu pai era muito seguro de si. Em nenhum momento ele pensou no reino que
deixaria pra mim? Eu não esperava herdá-lo cheio de ameaças e trapaças. Se ele
acreditava que quitaria essa dívida ou não, por que ele não me alertou? Porque
não me preparou para o pior? Eu não serei o seu sucessor. Outro homem, um
guerreiro nato, deve ocupar o trono de Aisengard, não eu!
-Majestade,
o senhor bebeu na taverna? – gritava o nômade - Não sabe o que está dizendo! –
Gabriel simplesmente parou no lugar onde estava e se recusou a seguir para o
castelo.
-
Sir. Dewysom: eu não serei bom rei para Aisengard. Não tenho a coragem
necessária para ser um líder, um desbravador, e talvez só haja uma coisa a
fazer para o bem de todos: eu vou sumir daqui! Sim! Sumirei... já que o meu
nome e o meu sangue me obriga a tomar decisões para as quais eu não fui
preparado.
-
Não blasfeme, Majestade! – grita Sir. Dewysom com o jovem, num gesto
desesperado de trazê-lo de volta pra casa - se não pode se comportar como um
nobre, procure aprender a respeitar a nobreza. Vossa majestade deve honrar o
nome do seu pai e da lei de sucessão do trono.
-
Então Sir. Dewysom, eu o ordeno que me ajude a fugir – falou em voz alta o
jovem em meio à ventania, numa outra tentativa de sumir dali.
Sir.
Dewysom, abismado, vê uma “criança”, em outras palavras, sacar vejam vocês, uma
adaga! Um punhal, um pouco maior. Parecia estar possuído! Enfeitiçado,
talvez... e seu olhar estava distante... não seria nenhuma surpresa se
estivesse possuído, já que Agnaron poderia ainda estar próximo.Os dragões
possuem o poder de comandar mentes! Num piscar de olhos eis que surge
repentinamente Sir. Dewysom, frente a frente com Gabriel... e o desafia:
-Majestade,
serei obrigado a levá-lo de volta ao reino. Não me obrigue a ter que usar a
força contra você.
O garoto, num ato impensado, partiu pra cima
do seu próprio comandado, conseguindo acertar-lhe de raspão um golpe, um corte
superficial no ombro do destemido nômade.
Porém, com braços maiores e mais fortes, rapidamente o jovem rei foi
dominado, até que suas forças se acabaram, ou um feitiço havia se dissipado...
enfim, com o jovem rei em seus braços e desacordado, Sir. Dewysom consegue
caminhar trazendo Gabriel desacordo emm seus ombros. Enfim, chegou até os
portões do castelo... com frio e exausto!
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