A
serpente aplicou o primeiro bote e acertou um dos guardas reais, que logo caiu.
O ex-prisioneiro, o homem que havia jurado fidelidade ao rei, procurou se
aproximar, a ponto de recolher a espada usada pelo guarda atingido. Num ataque
fulminante de todos os outros guardas, a serpente gigante não resistiu... foram
tantas espadas perfurando-a de uma só vez que ela caiu. A magia negra que a
dominava foi se esvaído, tornando-se poeira, depois fumaça, e assim se desfez
por entre os vitrais daquele aposento.
-Vossa
Majestade, o senhor está bem? - se aproximou o ex-prisioneiro, preocupado com a
integridade física do seu rei.
-
Sim, estou bem. – tranquilizou a todos o rei - Agora tirem-me essa armadura...
não estou suportando o seu peso.
Todos
os bravos soldados que chegaram posteriormente só puderam imaginar o que
poderia ter acontecido. Trataram de recolher o corpo do guarda atingido e
cuidar do seu enterro. Mais um que morre pela bruxaria maligna que assola o
reino. Horas depois, o jovem rei Sir. Gabriel Aisengard Sétimo refletia sobre
os últimos acontecimentos. O falecimento do seu pai, a herança do reino, a posse
do trono e uma armadilha que o levou para o calabouço, de onde escapou com
méritos e o habilitou a um precoce amadurecimento. Mas nada foi tão perigoso
quanto estar frente a frente com uma serpente gigante. E pensar que o primeiro bote da horrenda criatura
poderia ter sido em sua direção... era necessário estar atento: qualquer pessoa
ou criatura poderia estar naquele exato momento tramando contra o seu reinado.
Era
o momento de contar com um escudeiro. Alguém que seja seu braço direito e o
defenda com unhas e dentes... ou espadas! Convidou então o ex-prisioneiro que o
ajudou a fugir do calabouço:
-
Qual o seu nome, homem?
-
Majestade, eu me chamo Deywisom. – respondeu o ex- maltrapilho anônimo.
-
Pois o nomeio Sir. Deywisom. Será meu braço direito, se quiser, e terá a
oportunidade de cumprir a promessa feita no calabouço, lembra-te? - indagou o
rei.
-
Sim senhor. Será uma honra lutar contra qualquer um que o ameace. – agradeceu.
O
rei ordenou então que providenciassem banho, comida, armamento e roupas
adequadas a Sir. Deywisom, acreditando ser ele alguém de sua confiança. O rei
Gabriel ocupava o trono e ainda organizava as suas ideias quando outro
informante adentra ao salão principal e anuncia a chegada de um mensageiro.
-
Não quero receber visitas. – disse o rei, imaginando não estar pronto pra tomar
nenhum tipo de decisão. Mas foi um dos guardas reais que se aproximou e
aconselhou:
-
Majestade, estamos aqui... do seu lado. Um mensageiro em si não o oferecerá
perigo e a mensagem que ele traz pode, no máximo, deixa-lo preocupado. E esse
mensageiro traz informações importantes, de alguém que o seu pai conhecia.
-
Tudo bem, mande-o entrar. – autorizou o rei. Eis que entra no salão principal
um góblim, uma criatura pequena,
feia, peluda. O fedor daquela criatura tomou conta do salão. Seus dentes
caninos ficam pra fora de sua grande boca, e enquanto caminha em direção ao
rei, aproveita pra atormentar os guardas reais dando língua e fazendo careta...
é o que se pode esperar deles. O que o tornava diferente dos outros orcs era a
vestimenta que ele trazia consigo e a falta de armamento, porque nas histórias
contadas pela sua mãe os orcs eram grandes, desnudos e armados com porretes.
-
Então vocês trataram de, rapidamente ocupar o lugar do nosso falecido amigo! –
ironizava a criatura – Trago condolências de Agnaron, o dragão branco. Ele
tinha com o seu pai uma grande amizade e muitos negócios. Vim também saber se
continuaremos com os negócios ou teremos que marcar outra reunião? Quem sabe
até estabelecer novas taxas de pagamento!
-Ora,
seu insolente! Não fale assim com rei! – Sir. Deywisom desembainha a sua espada
e parte para cortar o góblim ao meio, mas é contido a tempo por um dos guardas,
que diz:
-
Deixe-o blasfemar. É da sua medíocre natureza fazer com que nós humanos
percamos a paciência. Ele é somente um mensageiro, e se não retornar com a
resposta dentro do prazo, centenas deles nos atacarão, e pior: acompanhados de
Agnaron, o dragão branco.
-
Então, jovem rei... você tem três dias para enviar dez mil moedas de ouro em
troca da paz de Ainsengard por um bom tempo.
Caso contrário nós tomaremos o seu castelo, como fizemos com outros dois
reinos próximos daqui. – ameaça o goblim, que dá as costas e se retira do
castelo, gargalhando, certo de que o cheiro que rondava aquele jovem rei era o
de medo. Sim! Eles estavam com medo, e Agnaron não perdoará esta dívida.
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