terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Capítulo 12

(Continuação dos capítulos anteriores. Comece lendo o Capítulo 1) 

Enfurecido o monstro urrava e tentava a todo momento nos acertar com os punhos cerrados, mas conseguíamos escapar... éramos menores e mais rápidos. Ele não nos perdia de vista, tamanha era a sua vontade de nos acertar. Até que um dos nossos, armado com a machete,  acertou-lhe um bom golpe no joelho, o que fez com que o monstro sentisse muita dor e, por um momento, o encarasse fixamente, permitindo que eu e um outro homem desarmado saísse depressa por baixo dele. O Troll ainda recebeu pelas costas mais alguns golpes de porrete desferidos por um dos nossos, na tentativa de dar cobertura um ao outro. Eu corria muito, seguia um filete de luz que apontava lá longe, provavelmente a saída daquela obscura caverna... de repente paramos. Tínhamos chegado à saída e torcíamos muito pra não ouvir novamente o urro do Troll. Queríamos mesmo era ver os dois humanos saírem vencedores daquele combate e o silêncio evidenciaria isso. Mas o que sentimos assustadoramente foi o tremor de seus passos vindo em nossa direção. Não tínhamos outra opção, então  saímos em fuga de lá, com medo de acontecer conosco o mesmo que aconteceu com os dois que ficaram, somente fomos testemunhas da coragem e bravura de cada um deles. Eles deram a vida para que eu e o meu parceiro de fuga sobrevivesse. Passamos o restante do dia descendo a montanha e nos demos conta que estávamos próximos ao condado de Wilmor. Eu decidi parar e descansar,  meu companheiro continuou em fuga pelo vale, sem despedida em agradecimento, corria tanto que talvez só perceberia que estava sozinho mais tarde.
 Providenciei colher alguns gravetos ainda antes de anoitecer, mas não consegui fazer fogo a tempo. A noite chegou e procurei me aconchegar atrás de uma grande pedra. Amedrontado, faminto e com frio. Se o próprio Troll me aparecesse oferecendo ajuda eu  e o seguiria até a sua caverna! “–Tsc, tsc!..”  sorria sozinho em meio àquele vale sombrio. Óbvio que eu não o seguiria, os Trolls não se socializam, vivem nas cavernas, escravizando seres menores ou menos inteligentes... por isso consegui fugir. O brilho da lua tornava aquele vale um belo lugar para passar a noite... acordado. Sem fogo para espantar os animais ou uma manta para me cobrir, teria muita sorte se a luz do dia chegasse logo sem demais problemas... ou adormecer e acordar preso novamente. Um pouco mais de azar e eu seria abordado por nômades ladrões! Esse último seria mais perigoso, porque não tenho nenhum pertence e eles iriam querer me roubar de qualquer jeito! O corpo cedeu ao sono, e acordei com alguém me cutucando com um bastão:
- Ei! Acorde! Levante-se! – cutucavam minhas costas dois homens bem vestidos com couraças... portavam equipamento. Levantei-me num salto só, assustado.
- Estou desarmado! – fiz questão de afirmar ao me levantar, enquanto um deles me intimidava. - De onde vens e pra onde vai? – perguntou-me o outro.
- Eu e outros três homens fomos feitos prisioneiro por um Troll, não me lembro como. Acordamos numa pequena cela e conseguimos arrombá-la. Lutamos contra dois orcs num corredor estreito até chegarmos numa grade sala. Lá ocorreu o confronto em que dois dos nossos morreram. Ontem, antes do anoitecer, o outro homem tomou o seu rumo, e aqui estou, tentando chegar em paz ao condado de Wilmor... não tenho nenhum pertence mas posso ajudar se precisarem... por favor não me machuquem.
- Tome! – jogaram-me uma grande bolsa de couro nos pés – Carregue nosso equipamento, estamos indo para um lugar e passaremos pelo condado. Lá você fica. – Disse-me um deles com autoridade. Eu teria mais chances de chegar vivo em casa na companhia deles, então decidi ir. Qual era a outra alternativa: ficar só num vale sombrio?
Não era muito pesado, mas ali estava todo o equipamento deles. O que portava o bastão dava as ordens, parecia ser o líder entre os dois. O outro era grande e forte, não falava muito e passou a ficar mais atento à estrada, com o intuito de não sermos surpreendidos. As estradas essencialmente nos levam de um reino a outro. Naquele momento o que nos oferecia perigo eram as feras, os ladrões... tentei começar um bate-papo com um deles:
- Estão viajando a muito tempo? – perguntei ao mais forte.
 - Só fale comigo quando eu falar com você primeiro... senão você morre! – respondeu-me o “brutamontes”, sem deixar de vigiar os flancos!
- Não se assuste, rapaz. – me tranquilizou o portador do bastão – Ele é um mercenário, trabalha pra mim, é o meu guarda-costas. Pode conversar comigo, se quiser, mas nunca perca de vista a estrada. Elas guardam surpresas, boas e ruins.
- Tenho certeza que morrerei se falar com ele de novo! – continuei,  despretensiosamente – Então...  vocês estão viajando a quanto tempo?
 - Ele quis dizer que se bobearmos, seremos atacados por ladrões ou humanóides! – explicou a reação do mercenário, como líder – Somos em três, ou melhor,  dois. Estamos indo para o pântano de Iworcland, pretendemos passar pelo condado, e aí você fica.
- Posso ajudá-los a encontrar o que precisarem no condado. – tentei dizer algo que os agradassem – Conheço um bom ferreiro, e a taverna mais visitada pelos viajantes. Lá encontrarão algo útil.
- Sim, precisamos de óleo, armamento e comida. Sabe manejar alguma arma? – perguntou-me o líder.
- Eu ainda não tive a oportunidade! – respondi meio acanhado, mas queria deixar uma boa impressão – Meu fraco é o vinho! Sempre que passo da conta acordo nas situações mais adversas! Esta foi a pior ressaca que tive... até agora estou tentado me lembrar de como fui parar num calabouço!
- Ah! Ah! – soltou uma risada tímida - Mas você já matou um ser vivo? Já agrediu algum homem ou animal?
- Já troquei socos, mas nunca matei. – falei a verdade, e ele perdeu o interesse conversa. Caminhamos por todo o dia, sem descanso. Sabíamos que naquele ritmo chegaríamos no condado antes do anoitecer. E foi o que aconteceu. Logo que terminamos de subir um planalto, tivemos uma visão privilegiada do condado de Wilmor.


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